Ainda chove em Porto Alegre.
Chegamos no shopping e havia uma gravação de um comercial ao lado da nossa obra. E nosso trabalho servia de cabide para um casaco, além de apoiador para umas placas de madeira. Encostadas às grades, inúmeras sacolas e uma arara de figurino. A tomada que utilizamos para ligar nossos disc-men estava sendo ocupada pela equipe, ou seja, não poderíamos ligar nosso trabalho até que eles terminassem. Eles terminaram ao meio-dia. Nada disso nos foi avisado.
Almoçamos comida que a mãe do Beto nos trouxe. Saudades de comida caseira...
Dediquei uns minutos a arrumar as unhas... O Beto captou o seguinte comentário: “Uma instalação com gente dentro! Que máximo! Com gente dentro eu nunca tinha visto! Ela tá fazendo as unhas, e ele mexe no computador!”
“Olha! É o Porto Alegre Em Cena!”
“Parabéns pela ousadia!”
...Pessoas aplaudem!
“Porto Alegre precisa mesmo desses movimentos em lugares alternativos, mais descentralizados!”
“A gente jura que é feliz, mas vive preso!”
...Senhores, bem velhinhos, passam de bengala e param para ver o trabalho.
Um desses senhores nos pergunta: “República ou Monarquia?” – Arte! – Responde o Beto. E ele: “Ah, mas aí tu me desarmas!” – E segue contando uma história de amor que deu errado porque a dama em questão não gostava de arte e poesia... – “Uma mulher sem alma!” – Ele diz. E se despede dizendo que nos ama por estarmos colocando arte na vida das pessoas...
Uma jovem mãe, com o bebê no carrinho, pára ao lado das grades. O bebê se encanta conosco e dá risada, pula no carrinho, “conversa”. Um pequeno espectador. Talvez tenha pensado que somos macacos.
À tarde, assistimos um dvd de suspense. Filme ruim e quase sem som, porque não é permitido aumentar o volume. Acompanhamos pela legenda. Mas foi interessante: nós dois quase deitados, no tapete, cobertos, comendo bala de coco, numa cena das mais caseiras.
Tempo sagrado para manter o mundo virtual em dia: blogs, site, e-mails, orkut... Palavras que até pouco tempo nem existiam e hoje são indispensáveis.
O mundo real também é importante... Temos conseguido acompanhar o que acontece pelos jornais que o shopping disponibiliza aos clientes.
A tarde demorou a passar. Pouco movimento. Pouca paciência. Estamos sentindo modificar o nosso comportamento em relação ao “estar aqui”. Está sendo mais difícil.
Lembrei de um comentário feito por amigos há um tempo e que não foi registrado... Se fôssemos fumantes, não conseguiríamos estar aqui durante tanto tempo. Seria realmente um pouco mais complicado. Os cigarros, para os fumantes, seriam uma fuga para uma pretensa liberdade? Ou uma prisão a mais?
Lanche no início da noite. Café de uma das cafeterias do shopping. Acabamos nos distraindo com visitantes e o café esfriou.
*Happening (acontecimento):
“Forma de espetáculo, muitas vezes cuidadosamente planejado, mas quase sempre incorporando algum elemento de espontaneidade, em que um artista executa ou dirige uma ação que combina teatro com artes visuais.
...Termo criado em 1959, usado para designar uma multiplicidade de fenômenos artísticos.
...Acerca da importância do acaso na criação artística, os happenings foram descritos como “eventos teatrais espontâneos e sem trama”.
...Saída do artista dos áridos limites das galerias e museus para as ruas e praças públicas.
...Eventos programados para chocar a moral estabelecida.
...O happening era tido como algo que deveria criar situações ou eventos que revestissem de aura poética e fantástica os elementos da vida e da tecnologia cotidianas.
...Um instrumento para a produção de contradições.
Em todo o caso, a teoria do happening é tão diversa quanto sua prática.”
Dicionário Oxford de Arte
Um comentário:
Ei, demarquem território! Como assim, usando a tomada de vocês?! Mijem nos cantos!
UAU! Esse tal senhor da questão é mais uma pérola ambulante!
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