quarta-feira, 12 de setembro de 2007

DÉCIMO QUINTO DIA Terça-feira, 11 de Setembro de 2007.


No caminho para o shopping, um dia lindo, e hoje é meu aniversário. Agradeci por estar viva, saudável e feliz.

Ao chegar no shopping, percebi uma dormência estranha no canto do meu lábio superior. Não acreditei! Um pontinho branco, como uma espinha... Será herpes labial? Nunca tive, mas a baixa imunidade pode fazer aparecer herpes. O Beto foi à farmácia e comprou uma pomada para herpes. Passei e fiz uma oração para curar seja lá o que for. (Obs. Ao final da noite tinha desaparecido. Terá sido a pomada ou a oração? As duas, acho.)

Essa manhã o shopping está mais movimentado.

Dividimos uma fatia de torta com uma vela de aniversário em cima, que o Beto, sorrateiramente, trouxe, escondido, para mim. Cantamos “Parabéns a você”, bem baixinho... Eu comemoraria mais abertamente se hoje não fosse o dia 11 de Setembro... E se pensarem que somos terroristas?

Passam os rapazes armados, com seus malotes preciosos. Olhos arregalados, como que concentrando toda a energia do corpo em observar tudo ao redor. Como feras na selva. Há caixas eletrônicos dentro do shopping, que são movimentados por rapazes em alta tensão.

Costumamos usar os banheiros do andar de cima, que são os mais próximos e, portanto, é mais rápido. Queremos estar os dois na cena o máximo possível, porque achamos que o impacto é maior ao ver um casal enjaulado do que uma pessoa só. A ida ao banheiro é sempre interessante porque, na escada rolante, ouço os comentários das pessoas que estão subindo e não sabem que faço parte da obra. Por exemplo, duas adolescentes comentam entre si: “Olha ali, o cara enjaulado, jogando vídeo game! O cara tem que estar louco pra fazer uma coisa dessas, né?”

Sentados no chão, dividindo um sonho de doce-de-leite, felizes como duas crianças. No meio de um shopping classe A. Se uma dessas pessoas, que freqüentam este lugar, dar-se conta de que é preciso muito pouco para ser feliz, esse trabalho terá valido a pena. Ainda que esse não seja o seu tema principal.

Um rapaz da administração do shopping comenta conosco que o pessoal da sala dele diz que é um “Big Brother” a dois...

“Porque vocês estão engaiolados?”

“Vocês são hippies?”

A senhora aquela que veio ver a obra nos primeiros dias, e disse estar com pressa porque precisava fazer um jogo de “cinco Marias” para a neta de dez anos, voltou para ver se “ainda estávamos aqui”. Ficou admirada com a nossa paciência e contou histórias da sua vida em família. Assim, como uma vizinha que chega na nossa janela. Ouvimos as suas lindas histórias de vida, e cada espectador que chegava, ouvia também. Mas logo ela precisou partir: precisava fazer uma “cama de gato” (aquele jogo infantil antigo, feito de fios) para a neta.

Uma espectadora comenta conosco a sua leitura da obra, diferente de todas as já ouvidas. Para ela, representamos um casal feliz, mas isolado, que não quer dividir essa felicidade com ninguém, vive no seu mundinho próprio.

Manter nosso LAR DOCE LAR em ordem, às vezes, irrita, já que não somos nenhum primor de organização. E queremos tornar o local sempre visualmente agradável, sem bagunça. Não que não apreciemos a bagunça, mas ela daria uma outra leitura. Queremos parecer suficientemente “normais”. Bagunça denota uma certa liberdade da qual não desfrutam os nossos personagens.

Fome. Comida cara. Este é o nosso momento. Acabou a comida que trouxemos de casa e nos recusamos a gastar uma quantia exorbitante por um cafezinho e um pão de queijo, que iria nos alimentar até que cheguemos em casa, à noite. Shoppings são caros, é fato. Por mais que as pessoas queiram dizer que não, até por timidez de assumirem sua falta de recursos. Somos artistas, nosso capital é limitado e podemos assumir que, sim, nossos recursos são parcos. E, se ninguém assume, nós afirmamos: a comida no shopping é um absurdo de cara. O que não impede que pessoas venham passear e comer aqui, como uma forma de lazer. Vivemos fazendo isso, quando estamos vivendo a vida real. Mas, diariamente, é impossível. Saí do shopping e fui à padaria da esquina. Triste destino. Não aceitavam cartão e eu não tinha dinheiro vivo. Voltei irritada e o Beto foi à praça de alimentação do shopping. Comprou, após longa pesquisa, o que encontrou de melhor custo-benefício: dois cachorros-quentes (bem pequenos, daqueles de aniversário) e um café com leite, por R$6,80.

Recebi abraços dos lojistas que sabiam do meu aniversário!

Ganhamos uma revista de cortesia de um rapaz que trabalha na livraria e já ficou nosso amigo... A gerente da livraria nos empresta livros da biblioteca dos funcionários, por iniciativa dela, porque a administração geral da rede negou emprestar livros como forma de apoio cultural, mesmo após mandarmos um projeto solicitando. É bom colocarmos as dificuldades enfrentadas na busca por apoio. Quem trabalha com produção conhece bem esse dilema. Depois da obra pronta, às vezes, nem dos damos conta das dificuldades enfrentadas para realizá-la.

2 comentários:

Unknown disse...

FELIZ ANIVER CLAU!!!! E azar dos terroristas , este dia é teu há mais tempo! Um abração dos amigos Si e João - uma dupla de coração. E, também, dos filhotes Débora e Felipe.
Realmente a comida é cara, mas a solidariedade supera as distâncias e a falta de patrocínio oficial. O que conta, no fim, é o movimento que a instalação gera por si só.
A arte pode mudar o homem, mas só o homem pode mudar o mundo, não é?
abreijos,
Simonella

Jener Gomes disse...

Ai, que absurdo! Porquê não comemorar o aniversário?? As pessoas fazem isso em seus lares! E com bolo, espumante, língua de sogra, velas, etc.! :-P

Adorei a apreciação da simplicadade das coisas e a gentileza dos livros. Valorizarmos as coisas boas da vida é importantíssimo. E... gentileza gera gentileza! :-)

E sim, exponham as dificuldades colocadas para a realização do projeto, é importante mostrar que mesmo com adversidades vocês conseguiram tocar o projeto adiante a materializá-lo! Parabéns!!! Isso é um sucesso!!!